As empresas de pequeno porte com uma estrutura bem organizada e produtos com alta demanda global têm uma oportunidade de negócio favorável no atual cenário econômico brasileiro. A alta cambial favorece o comércio exterior, o que pode levar os pequenos negócios a se internacionalizar e passar a competir globalmente. Uma estratégia para abertura de novos mercados e aumento de volume de vendas. É preciso, porém, analisar os caminhos e os mercados mais promissores antes de o empreendedor pensar em investir. Especialistas consultados avaliam a situação e dão dicas para os empresários que pretendem seguir esse caminho e conseguir atender às exigências do mercado exterior.

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Que a conjuntura atual é bastante favorável às exportações, não restam dúvidas, principalmente devido a dois fatores: a alta do dólar e a retração do consumo no mercado interno. A avaliação é do economista, palestrante e consultor Ricardo Amorim, que é presidente de uma empresa de consultoria e um dos debatedores do programa Manhattan Connection, da Globo News. Segundo o especialista, que atua no mercado financeiro desde 1992 como economista e estrategista de investimentos, a elevação da taxa de câmbio, com o dólar muito mais alto, faz com que a rentabilidade das exportações hoje seja maior do que era há alguns anos atrás.

Somado a isso, a demanda doméstica, em função da recessão no Brasil, está bastante retraída. “Com isso, a forma de compensar a redução das vendas aqui, no Brasil, é aproveitar uma condição em que a competitividade das nossas exportações é a mais elevada dos últimos anos”.

Para Ricardo Amorim, o mercado mais propício para as empresas brasileiras é o norte-americano, que, paradoxalmente, é o que mais perdeu participação de mercado nos últimos 15 anos. “A alta do dólar torna produtos brasileiros muito mais baratos para os Estados Unidos e isso faz com que a entrada dos nossos produtos seja maior. Além disso, várias das principais economias mundiais, hoje, passam por desacelerações importantes”, pondera. Ele se refere à Europa, que vem passando por um quadro de desaceleração desde 2008, e ao Japão, cuja economia ainda há mais tempo passa por dificuldades e tem momentos muito breves de recuperação.

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A novidade, no entanto, é que os principais países emergentes também passaram por desacelerações. A Rússia tem uma recessão ainda mais grave que a brasileira e a China, ainda que com um crescimento bastante forte, vem desacelerando. “O único país emergente grande que vem sustentando uma taxa de crescimento elevada e sem maiores desacelerações é a Índia, mas é um mercado ainda relativamente pequeno para o Brasil. Então, se a gente considerar tamanho de mercado, os principais são, por ordem, para as exportações brasileiras, a China e os Estados Unidos”, opina o economista.

Mas, se consideradas as perspectivas de curto prazo, tanto do lado cambial quanto do lado econômico, Ricardo Amorim acredita que o mercado norte-americano é a melhor aposta. “Pensando a longo prazo, a China ainda é um mercado que vale investir e a Índia, sem dúvidas, é um mercado que vai se tornar cada vez mais importante”.

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Setores propensos

Quando a questão é que produtos e setores estão em alta fora do Brasil, Ricardo Amorim diz que o agronegócio brasileiro tradicionalmente tem se mostrado muito competitivo,  tanto de exportações que provêm do Nordeste como do resto do país. Mas a novidade é que essa elevação significativa do dólar cria condições para que setores industriais brasileiros também se tornem mais competitivos.

“Não que alguns já não fossem. Por exemplo, a Embraer é uma das principais exportadoras brasileiras e exporta não só um produto industrial, mas também de altíssima tecnologia. Mas na maior parte dos casos, não é isso que acontecia”, diz e completa: “Acredito que, como o dólar deve permanecer elevado por períodos longos, criam-se condições para que uma série de setores que até recentemente não eram muito competitivos e tinham poucas condições de exportar passem a exportar. Isso vale inclusive para as empresas que estão instaladas no Nordeste”.

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Incertezas fiscais

No que se refere aos impactos da política econômica do Brasil sobre as exportações, os especialistas veem as incertezas fiscais como um problema para todos os setores da economia e afetam também as empresas que querem exportar. “Enquanto o Brasil tiver esse desequilíbrio das contas públicas e a necessidade de ajustá-lo, o risco vai permanecer porque esse ajuste pode, e deveria, ser feito predominantemente por cortes de gastos públicos, mas é muito difícil ter qualquer tipo de certeza de que isso ocorrerá. Aliás, pelas sinalizações do governo, pelo menos uma parte, e eventualmente uma parte ainda muito significativa do ajuste, vai acontecer com aumento de impostos”, analisa Ricardo Amorim.

Para ele, essa situação cria um cenário em que as empresas são forçadas a precificar, em qualquer decisão futura, um potencial aumento de custos por conta desses impostos mais altos. E isso limita a quantidade de negócios e, por consequência, o crescimento do país. “Até que o ajuste fiscal esteja terminado e esteja claro que o Brasil retomou a confiança e que, portanto, não precisa continuar apertando o cinto, elevando impostos ou cortando os gastos do governo, todos esses setores têm um risco de verem aumento de impostos. Isso significa redução de recursos para todos”, diz o economista.

*Por Cleonildo Mello em ricamconsultoria.com.br/news/entrevistas/palestra_exportacao_como_saida_para_a_crise_no_brasil


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