Quando os amigos foram informados de que James Higgins, 31, sua mulher Trish, 29, e seu irmão Palmer, 27, haviam abandonado seus empregos tradicionais no mercado financeiro e vendido sua casa em Greenwich, Connecticut, presumiram que eles estivessem aproveitando alguma oportunidade empolgante em outro lugar.

Mas não imaginavam que o projeto fosse uma empresa de paisagismo e remoção de neve no sul do Maine.

No entanto, os Higgins são parte de uma tendência cada vez mais forte: pessoas com espírito empreendedor que preferem não criar negócios do zero. Em lugar disso, elas buscam comprar uma empresa pequena ou média – em muitos casos uma empresa familiar colocada à venda pelo fundador – e ajudá-la a prosperar.

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O interesse por esse tipo de projeto está crescendo, dizem os especialistas, por diversas razões. Primeiro, as pessoas da geração baby boom (os norte-americanos nascidos entre 1946 e 1964) que criaram empresas – e que não tenham filhos ou sucessores – estão prontas para vendê-las e se aposentar. Além disso, hoje está mais fácil tomar dinheiro emprestado do que vinha sendo o caso nos últimos anos.

E a ideia “oferece um terceiro caminho”, disse Royce Yudkoff, professor da escola de administração de empresas da Universidade Harvard, que leciona, com o colega Richard Ruback, um curso sobre gestão financeira de empresas de menor porte.

A opção atrai pessoas que “querem mandar em seus negócios, ajudar a construir uma organização e ser parte de uma comunidade”, disse Yudkoff. E ao contrário do trabalho para uma grande empresa, ele diz, o segmento atrai pessoas que gostam de lidar regularmente com gente diferente delas mesmas.

Esses foram os motivos para que os Higgins escolhessem o caminho que escolheram.

Os três começaram a busca do modo mais elementar: pelo Google.

“Realizamos uma busca com a pergunta ‘como comprar uma pequena empresa’, e descobrimos que existe um mundo enorme lá fora”, diz James Higgins.

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O mundo funciona mais ou menos como o mercado de imóveis residenciais: sites postam anúncios de empresas à venda, usualmente acompanhados pelo nome de um corretor.

As vendas de pequenas empresas cresceram em 58% de 2012 a 2014. Os preços das companhias à venda podem variar de milhões de dólares a menos de US$ 100 mil, e o preço médio de venda é de US$ 200 mil. As categorias com maior número de ofertas são as de restaurantes e varejo.

Como no caso da compra de uma casa, o corretor representa o vendedor. A comissão varia, a depender da localização e do tamanho do negócio.

Os Higgins estabeleceram alguns parâmetros. Queriam uma empresa nem grande demais e nem pequena demais, e por isso decidiram buscar um negócio com preço de venda de entre US$ 3 milhões e US$ 10 milhões, e que usariam suas economias e investimentos de parentes para fazer o negócio.

“Criamos um funil muito largo”, disse James Higgins.

À medida que as buscas avançavam, eles começaram a estreitar o funil. Perceberam que a melhor aposta seria uma empresa que atendesse a um nicho de mercado, em um segmento no qual a possível falta de grandes perspectivas de crescimento fosse compensada pela concorrência fraca, e cujos negócios apresentassem bom desempenho ao longo do tempo.

Os Higgins estudaram mais de mil empresas, conversaram por telefone com 75 delas e visitaram 10 possíveis vendedores, do Nevada a Cape Cod, em ramos diversos como manutenção de correias transportadoras e planejamento de eventos.

Constataram que os vendedores tipicamente se enquadravam em dois grupos: proprietários que desejavam se aposentar mas não tinham plano de sucessão; ou pessoas na casa dos 40 e poucos anos que tinham muita experiência profissional em seu ramo específico mas não contavam com os conhecimentos de gestão e finanças de profissionais, como os Higgins.

O segundo tipo de vendedor “era gente ansiosa para elevar o patamar de suas empresas, mas só depois de encontrar os sócios certos”, disse James Higgins.

Uma pesquisa entre corretores de empresas constatou que 75% dos compradores tinham entre 30 e 49 anos no ano passado, e os outros 25% entre 50 e 64 anos.

Por nem todo mundo poder arcar com os custos de busca e compra de uma pequena empresa, uma opção que vem ganhando popularidade é o uso de fundos de busca. Trata-se de fundos oferecidos por um grupo de investidores a um empreendedor em busca de uma pequena empresa a adquirir.

Os compradores também encontraram caminhos criativos para o financiamento, como fez Devin Mackoff, 29, que este ano adquiriu uma empresa de paisagismo em Cape Cod, com faturamento anual de entre US$ 250 mil e US$ 500 mil.

Ele deu US$ 150 mil de entrada para comprar o negócio, incluindo ativos e equipamentos, e garantiu 10% da receita da companhia pelos próximos três anos aos antigos proprietários. O pai dele também investiu na empresa como sócio minoritário.

Mackoff trabalhava como consultor de gestão em Boston desde que se formou na universidade, “e no entanto desde pequeno já queria um negócio meu, mas nunca tive os recursos financeiros para isso”.

Ao contrário dos Higgins, a área geográfica de sua busca era estreita, porque ele queria continuar morando perto de Boston. Ele também costumava trabalhar como jardineiro durante os verões, e por isso conhece o ramo.

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Quando a Landscape Cod foi colocada à venda por um casal que tinha três outras empresas e sentia que administrar todos esses negócios era desgastante, Mackoff estava pronto. Assumiu a empresa no começo da temporada mais movimentada, e ela continua ocupada desde então, ele disse, acrescentando que seu pai era parte essencial da equipe.

Craig Campbell, que foi o corretor na transação de Mackoff, diz que hoje tem entre 15 e 20 empresas para vender.

“Se o preço do negócio é o certo e o histórico da empresa é de lucro, normalmente encontrar um comprador e realizar a venda, demora de três a seis meses”, ele diz.

Há dias em que Mackoff fica imaginando por que escolheu esse caminho tão difícil, mas “sei que se eu não o fizesse, seria um grande desapontamento em minha vida”, afirmou. “Tenho orgulho de dizer que sou dono de uma empresa, e não muitos outros caras de 29 anos podem dizer o mesmo”.

Para ler a matéria de Alina Tugend na íntegra em inglês, acesse aqui o texto do 


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